O fim do twitter no Brasil, o fim do twitter para mim
um toró de ideias sobre os últimos dias nas redes
Quando a contenda entre o bilionário e o STF se estabeleceu e resultou na desobediência do primeiro em relação a uma ordem judicial, eu pensei que estava preparada para renunciar ao twitter.
Eu não entre no site no primeiro ano, mas entre o final de 2009 e 2010, eu lembro de ter feito a minha primeira conta em que eu realmente me senti interessada em permanecer. Lembro que segui uma sugestão da amiga Andreia Marreiro (Instituto Esperança Garcia), que associou gentilmente meu apego aos diários (olha o nome do meu blog, ou a pilha de cadernos desse tipo que acumulei ao longo da vida) e o twitter se vendia como um microblog, como uma espécie de diário, onde você começava respondendo à pergunta “o que está acontecendo?” ou algo do tipo.
Eu nunca nem chamei de X, esse nome ridículo, igual ao pai dele.
Minha conta original se perdeu há muito tempo e outras depois, porque eu sempre chegava a um ponto de esgotamento. Seja por conta de alguma relação importante, por conta do momento que eu estava passando do lado de fora da tela, ou porque eu precisava recomeçar. Mas desde que eu comecei, sempre fui eu que decidi não usar o twitter como meio para uma série de ações que faziam parte da minha vida. Nesse ponto eu acredito que nos tornamos ciborgues, pelo menos na última década, usando ferramentas que impulsionam nossos sentidos, nossas habilidades, para o bem ou para o mal, de um modo que nem se percebia mais, como a relação do peixe com a água. Não vou aprofundar (eu to péssima com piadas esses dias).
Voltando ao presente: eu já tinha conta em outras redes sociais, claro e até mesmo em outros microblogs, meio que de saco cheio do excesso de fascismo que estávamos vivendo (estávamos?) nos últimos anos aqui no país. Não vou chamar essa merda de polarização. Mas a quantidade de informação e conhecimento que eu acumulei, que eu criei, que eu aprendi por meio daquela ferramenta, me fez pensar em um comentário que vi por cima de uma pessoa de fora do país, dizendo que para os fandoms/stans/ fãs de qualquer coisa, a queda do twitter brasileiro foi uma espécie de queda da biblioteca da Alexandria e as consequências ainda estavam sendo vistas.
Eu acredito que esse tipo de comentário foi um dos primeiros a saírem (para além da discussão jurídica e política imediata envolvendo o processo e seu descumprimento), porque a cultura pop é um grande motor das redes sociais, percebido inclusive por políticas sagazes, como a Érika Hilton, mas não só. É muito dinheiro que a indústria do entretenimento movimenta, também. Mas não é disso que eu quero falar.
Primeiro, sugeri, brincando, que se desse uma olhada nos indicadores brasileiros: do início do twitter versão antiga, de quando depois elão musque assumiu o controle e os comparassem com os indicadores pós twitter. Depois, me peguei voltando ao lugar no celular no qual estava o app do finado app. Antes, imaginando como algo temporário (pode ser até), mas agora encarando como uma perda real, me vi nas fases do luto em algo que eu realmente não tinha muito controle, a partir do momento que eu decidi me engajar.
Não se enganem, não estou falando só da ferramenta em si e seus algoritmos desnecessários com finalidades bastante duvidosas. Estou falando das pessoas, das minhas relações com elas e as nossas conquistas e perdas ao longo dos anos. O meu primeiro livro e essa newsletter dificilmente existiriam sem o twitter, porque foi lá que primeiro essas ideias foram acolhidas, afetivamente, intelectualmente e financeiramente.
Manifestações de rua, trocas artísticas, criações coletivas, discussões acaloradas- tudo isso muito melhor antes do E.M- foram intermediadas por esse negócio virtual. O mundo ficou menor e mais profundo- sim, mais profundo, de um jeito diferente. Eu sei tanto da mitologia da China agora, quanto eu sabia de mitologia grega antes do twitter, rs.
Eu tive todo o tipo de relações boas e ruins a partir dele, virtuais e no mundo aqui fora. Muitas amizades que hoje duram mais de uma década e outras que surgiram depois e que são tão importantes quanto.
Sou uma pessoa muito introspectiva, apesar de falar muito quando estou dando aula, ou quando me apego a alguém. Então essa invenção foi, no início, uma mão na roda para alguém como eu, que gosto de dar opiniões e de entender o mundo, ao mesmo tempo que precisa conversar sobre as últimas fantasias que leu, de um modo que não precise sempre estar presente para um nível de interação social que me esgota e para a qual eu nem tenho mais saúde- e nem dinheiro.
Como minha amiga Malú lembrou no dia do acontecimento (últimos dias de Plutão deixando capricórnio), uma citação do nosso livro de fantasia chinesa favorito: “Nesse mundo, não há banquete que não chegue ao fim.”
E mesmo que seja um fim esticado, porque eu acho que esse site já estava no fim faz tempo, eu não era uma iludida quanto a isso, pela própria qualidade da manipulação algorítmica (que vemos no Zuquebergue, também), acredito que a força da Justiça brasileira, ao enfrentar essa chaga que é esse senhor bilionário, nesse caso específico e da Starlinques, foi um marco suficientemente importante para alterar meus sentimentos e abrir uma série de questionamentos que saiam em fluxo no site, mas sem muita forma. Quem sofreu com isso, foi o pobre do meu blogue, tão esparçadamente atualizado.
Sinto falta ainda de muitas amigas e amigos que ainda não encontrei depois dessa queda. Essa mania de nickname e dependência de aparelho eletrônicos para lembrar de tudo é prática, mas tem esses problemas. Eu não tinha o nome e o telefone delas anotados à mão numa agenda como fazia com as amizades da escola e início da universidade.
Esse texto e um conto (um conto misterioso ou o fim de uma era k) que fiz esse final de semana, já são frutos dessa represa destruída. A água agora vai correr para seus laguinhos e riachos antigos e não só pelo grande rio represado.
E apesar de lamentar a perda do material salvo, não tem vida humana suficiente para dar conta daquilo como aquele conhecimento realmente merecia. Então, de certa forma, muito ali foi uma ilusão muito bem conduzida. Mesmo que volte, quem garante que estarão lá, não é?
Esse texto ficou grande demais. Foi mais uma tentativa de organizar as ideias e sentimentos sobre como podemos ser afetados pelos grandes movimentos das peças no jogo capitalista, desde as consequências mais tradicionais, até essas que parecem ser exclusivamente individuais, mas são muito bem capitalizadas desde os estudos de comportamento em Standford, para não retroceder a outros estudos mais marcantes. É um grau importante de deslocamento, mas menor, por exemplo, do que eu sinto quando assisto reportagens sobre os governos mimando o agronegócio que devasta dos biomas brasileiros, ao mesmo tempo que fica preocupado com o aquecimento global.
Mas já estou entrando em outro assunto. Fico por aqui. Até a edição do Clube de Profecias desse mês de setembro! Vou falar sobre dois livros sobre arqueologia e um pouco de literatura, para variar. Talvez outra coisa a mais. Não sei. Até breve!
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