Oi, amizades! 🥰
Chegamos em março, com chuva por aqui e muito calor pelo outro lado do país (sim, aquecimento global). Mas hoje eu me concentro dos dias chuvosos do Piauí.
Do que andei lendo recentemente, escolhi um que tocou em uma ferida da humanidade no século XIX. Uma ferida bem podre. 😥
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Hoje o boletim está com textos maiores, então você pode querer lê-lo de forma parcelada. Eu faço isso com as newsletter que eu sigo e gosto, quando não tenho como ler tudo de uma vez.
Por fim, um pequeno aceno a quem não está tão bem assim🧡
Então, vamos lá! 🤗
UM DIA DE MARÇO:
Vivendo um período de chuva um tanto irregular, março continua trazendo o único tempo fresco que vivemos aqui no Piauí durante o ano. No restante do ano, é tudo meio parecido com as ondas de calor que está afetando a região sudeste. Diante da insalubridade que se aproxima, eu vivo cada dia dessa trégua como se estivesse em outro mundo, no mesmo mundo e me sintonizo na mesma vibração que a microflora e microfauna que explodem de vida ao redor. Às vezes, em forma do que chamamos de praga, outras vezes na forma de mais plantas e flores e aves animadas ao nosso redor- a natureza não faz diferença.
O cuidado com a casa e com os alimentos muda, as frutas típicas finalmente adquirem uma face local: pequi, siriguela, bacuri, pitomba, vindas de árvores cada vez mais difíceis de encontrar por aí, mas que ainda alcança as mercearias, as feiras e os sacolões.
Garrincha faz sua vocal dança do acasalamento no quinta, ignorando completamente a presença humana, no que me sinto honrada. As curicas que povoam a parte alta da região, por conta das árvores altas, como as mangueiras e outras nativas, na direção da Jerumenha e da Embrapa, resolveram aparecer por aqui, uma pequena família que havia dado origem a um filhote que hoje já é adulto e deve estar por aí com sua própria família. Esse casal nenhum um pouco tímido, distrai as transeuntes do percurso do mercado, da escola dos filhos, à pé, que apontam: “olha o papagaio, filha!” (elas estavam nos fios do poste).
Eu me sinto renovada com essa pequena algazarra e deixo isso evidente para as crianças da casa, que me acompanham quando mostro as curiquinhas. Certamente elas só estão por aqui porque as poucas árvores e arbustos estão frondosos e deve haver maior oferta de alimento por conta das chuvas, então eu sei que é um encontro muito raro. E como a área delas foi invadida e perdemos a capacidade de conviver com esses pequenos seres em liberdade, é de se pensar se mesmo na área urbana, além dos parques, existem pequenos refúgios fragmentados que deveriam ser percebidos como algo vivo e não só como uma reserva financeira, um mato, um terreno qualquer, uma beira de estrada arborizada, que em breve trará progresso, não importa se vai desalojar tantas vidas.
É só um pequeno relato, com um desabafo no final. Essas pequenas quedas de árvores para reformas e expansão de terreno sempre doeram na criança que eu era. ☔ 🦜
E POR FALAR EM PROGRESSO…
Terminei de ler ontem Coração das trevas (1899), do Joseph Conrad. Do autor, eu só havia lido A Juventude. Essa edição da companhia das letras tem 214 páginas, reúne a história principal e um conto, além de um posfácio muito interessante.
O livro ficou particularmente famoso na época, por ser uma denúncia das práticas coloniais da europa, especialmente no Congo, que havia caído nas mãos do sanguinário rei Belga Leopoldo II. Apesar da história ocorrer antes do recrudescimento do que já era a barbárie branca, se passando antes do terrível ciclo da borracha, ela teve uma recepção em um meio que já discutia, pelo menos formalmente, o fim da escravidão no mundo inteiro, sendo o próprio Brasil considerado uma vitória desse movimento, com o fim do tráfico negreiro em 1950 (com muitas aspas).
Depois a fama se consolidou quando esse livro foi adaptado em Apocalipse Now (1979), onde em vez do Congo, tem-se o Vietnã.
Da minha parte eu achei a escrita de Conrad de qualidade, melhor do que eu lembrava. Há uma mistura entre o narrador e o personagem narrador, muitas vezes, no que ele foi muito sagaz, porque dá espaço para que eu pense que, apesar de alguma boa intenção de Marlow, ele é europeu branco, ainda que não seja de uma elite de fato, ele não consegue se expressar sem passar incólume pelo asqueroso imaginário supremacista e irremediavalmente incapaz de respeitar o Outro em sua diferença. São momentos pontuais, mas que convergem com o personagem que é o vilão da história, o senhor Kurtz. No final das contas, [spoiler] Marlow se reconhece como discípulo de um Kurtz já podre de morto.
É chocante refletir, mais uma vez, a respeito da atmosfera de ignorância e manipulação, que estimulou o medo e a violência, mobilizando contingentes humanos a perseguir, sequestrar, torturar, estuprar e matar pessoas negras por mais de 300 anos.
A esfera pública europeia, ao mesmo tempo que sentia (finalmente) uma vergonha na cara (vou deixar a intenções para outra oportunidade), demorou uns bons anos para conseguir retirar o poder do rei Leopoldo, que havia sido autorizado pelas maiores nações do mundo décadas antes. E nem vamos entrar no caso das lutas coloniais do século XX (aí a dica que o comentador dá do filme). Quer dizer, não era o lombo deles e nem a terra deles e nem o braço deles sendo decepado.
Apesar de tudo isso, eu ainda acho que valeu a leitura. Porque o Conrad, ele também era alguém no meio do caminho, ele não era bem um europeu inglês ou francês, por exemplo. Ele era polonês (que não era um estado ainda) e ucraniano (que eram perseguidos por uns 3 impérios), antes de se naturalizar inglês. Então ele bem pode ter desenvolvido um modo de percepção que é dentro e fora desse grupo violento.
Na edição passada eu recomendei um podcast que pode ajudar a trazer o contexto brasileiro da época, para o que o livro denuncia sobre o Congo do século XIX.
Finalizo afirmando que “O horror! O horror!” nada mais é que a alma colonial expressando sua, mais uma vez, incapacidade de sentir empatia, de enxergar grupos com modos de vidas diferentes como humanos e ser capaz de fazer algum tipo de troca real, seja material, afetiva, saberes. Realmente pavorosos, um HORROR.
Ps. Eu nem falei do Kurtz direito, porque eu ainda preciso de tempo pra passar a raiva.
Pps. O conto ao final é muito bom.
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BESTEIRINHA BOA
Já comentei aqui em algum momento, que não sou muito do audiovisual, no sentido de que continuei com meu ritmo pré aceleração de redes sociais e aplicativos e não acompanho quase nada quando é lançado- e mesmo depois. Dito isso, gritei de alegria aqui com mamis, quando Ainda Estou Aqui ganhou o Oscar de melhor filme: muito bom para a cara dos negacionistas.
Um pouco antes, eu havia maratonado o donghua Mo Dao Zu Shi, como uma senhora otaku que sou. Já havia lido os livros há uns anos e não tinha tido coragem de assistir, por conta do sofrimento que os personagens principais passam, mas a adaptação fez um ótimo trabalho (retirando a parte que mais me chocava). Desculpe aí as puristas.
E, recentemente, aproveitando o lançamento do novo álbum da Lady Gaga, ando ouvindo aquele This is Lady Gaga, do Spotify. Não que eu seja fã, mas gosto que ela mantém uma qualidade no tipo de música que faz e ali a seleção é meio homogênea, me anima no ponto.
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POR FIM…
Peço licença para um momento de espiritualidade, para fazer um pequeno carinho em suas pessoas queridas que passam por momentos delicados.
Lembram que umas edições atrás eu mencionei o livro O profeta do Khalil Gibran? Ele é perfeito para esses momentos de desesperança… Ele vem de um cristianismo que é fruto de uma miscelânea de culturas do que chamamos de oriente médio, sabedoria do leste asiático, junto com um tanto de filosofia ocidental. Eu nunca fiz parte de nenhuma religião organizada, porque não é muito do meu feitio, mas eu valorizo e respeito a espiritualidade quando ela consola quem precisa ser consolado, quando aceita seus limites ao mesmo tempo que ajuda a transcender uma percepção muito restrita, que não esteja fazendo bem. Isso pode se dá você estando ou não em uma igreja.
Dito isso, vai aí um trecho para essas duas mulheres que eu admiro e respeito, com o desejo de que tudo passe e que elas recebam o abraço e o amor que merecem. ❤
Lembrando que neste livro, temos um profeta que se despede da cidade que o acolheu a vida toda, com palavras inspiradas pelo espírito:
Disseram-vos que, como uma corrente, sois tão frágeis quanto vosso elo mais frágil. Essa é somente a metade da verdade. Vós sois, também tão fortes quanto vosso elo mais forte. Medir-vos pelas vossas pequenezas é avaliar o poder do oceano pela inconsistência de sua espuma. Julgar-vos pelas vossas falhas é como censurar as estações pela sua instabilidade. Sim, vós sois como um oceano. 🌊
Abençôo-vos particularmente por isso. Dais muito, e não sabeis que dais.🤲🏾
Vós não estais enclausurados em vossos corpos, nem confinados em vossas casas ou campos. O que sois reside acima das montanhas e erra com o vento. 🍃
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Até a próxima! 🌝🌞
Ass. Nay
Dicas, agradecimento e desabafos extra:
Esse lance do apoia.se
( https://apoia.se/clubedeprofecias )foi um pouco uma tentativa de não monetizar só por plataformas duvidosas como essa aqui. Vamos ver como nós saímos.
Os links da edição de março, coincidem com a semana do consumidor, então, caso queiram aproveitar as promoções, peço humildemente que se lembrem de abrir o site por qualquer um deles (os links daqui). Será de uma ajuda que reverberar daqui uns meses, quando a Amazon resolver depositar os trocados, rs!
Eu queria ter falado de pelo menos mais um outro livro marcante que li, mas já estava muito grande aqui, então fica para a próxima.
Obrigada pela atenção e por todo o apoio que recebi até aqui! Só em me lerem, já me sinto lisonjeada. 🩷
Mas se desejar descontinuar a assinatura, fique tranquila. 😉