Olá, amigues!😃
Aí está a carta de maio. Pequena e deu trabalho, não é sempre que a inspiração quer brincar. 😪
Sumário: 4 tópicos. Meus agradecimentos e pedido de ajuda no cafezinho descafeinado. 🥰
Oi.
As lavadeiras do Parnaíba na década de 1990
Já não era mais uma profissão requisitada e eu tinha ouvido falar como algo distante, talvez inexistente. Mas lá estavam elas: as lavadeiras do rio Parnaíba (Teresina). Foi rápido, vi as saias, os lenços na cabeça, as bacias de alumínio, a bateção das roupas na margem, não em pedras, mas no cimento do pequeno cais. Da janela do ônibus, apontei para minha mãe e ela confirmou, provavelmente contando uma história muito rica em detalhes, como é seu costume. Senti algum tipo de respeito e de conexão, pensando assim retrospectivamente, porque foram os olhos de uma menina ali testemunhando a memória viva de tantas gerações de mulheres pobres do Piauí, do Maranhão, de décadas anteriores, nessa profissão que mesmo naquele ano quase já não existia mais. Mas não era um pensamento de pobreza, era a criança espantada “o que mais se poderia fazer com as águas de um rio se me deixassem?”. Um mundo de possibilidades morava na minha imaginação, que só bem depois deu lugar ao rio real.
(Talvez seja a primeira parte de um texto)
Aqui é 1974, mas é a mesma margem, do mesmo rio. (Foto do Paulo Gutemberg)
Dei um duckduck go e encontrei blogs (https://teresinaantiga.com/teresina-entre-1973-e-1974) antigos, esse trabalho (http://repositorio.ufpi.br:8080/handle/123456789/2590)
Lulu Mayo
Aproveitei a febre do livro de colorir Bobbie Goods para adquirir um da ilustradora Lulu Mayo ( que tem um estilo encantador, que me lembra o Hayao Myiazaki. Ele está mais barato que a média, porque teve os direitos comprados pela Coquetel. Meu sobrinho já terminou seu primeiro Bobbie Goods, enquanto eu estou com um pouco de pena de colorir os desenhos maiores do meu (e preguiça). E você? Anda exercitando algum hobby de vez em quando, ou acha que isso te apequena como ser humano, mesmo considerando a máquina capitalista? Hobby pode ser uma coisa muito simples, como tirar uma meia horinha diária para observar os pássaros! ☺️
(se você for de Teresina, tem uma banca na praça do relógio, de frente para a rua climatizada, que tem vários desses livrinhos para adultos e crianças)
Criatividade
Sim, isso aí é meu diário atual.
Tem dias que a criatividade consiste em apenas descrever meus sentimentos e o que entendo do mundo, do meu jeito, porque finalmente me conformo que não consigo de outro. Mas no momento seguinte, me cobro “será que isso é criar?”. Fiquei pensando nessas frases que aparecem no fio infinito da rede de fotos e uma delas falava exatamente sobre isso: levantar a pedra e falar sobre o que há debaixo dela. A frase era do Saramago, o que me dá certa credibilidade, por hoje. Fazer ainda é mais fácil que convencer-se.
A citação era essa aí (https://citacoes.in/citacoes/103094-jose-saramago-eu-no-fundo-nao-invento-nada-sou-apenas-alguem/)
A palavra, a política
Durante um tempo, estudei sobre direitos humanos e seu percurso aproximado com a literatura, seja na forma, seja na necessidade de narrativa dos fatos e evocação da Justiça, seja na esfera pública, de um tipo de educação cidadã, que é interessante desde os clássicos até as formas mais populares- incluindo aí o mundo da oralidade. Depois, revisitei isso aprendendo com algumas especialistas no assunto, que a poesia poderia ser muito útil para os grupos oprimidos se expressarem (as especialistas também eram parte desses grupos), que o espaço criado, arranjado por essas pessoas, muitas vezes se tornava uma lagoa rica e cheia de vida, que eram as palavras, as emoções, as ideias, as estruturas que compartilhavam. A depender de onde você esteja, é muito fácil perceber a conexão da política com a criação literária, porque é disso que se trata, mas também dependendo de onde você esteja, pode ser que não e que haja um discurso higiênico separando tanto as partes do todo, que essa aproximação e até justaposição precise ser resgatada.
Pegando um conflito atual (com 70 anos de existência), é ainda mais fácil entender isso, que é a poesia feita insistentemente pelo povo palestino, pessoas de todas as idades e que temos acesso somente quando morrem e eu tenho a impressão que muitos deles sabem disso, visto que a poesia muitas vezes é uma despedida... É poesia, são direitos humanos, é política. Não é difícil entender aqui.
Toda essa introdução é para falar da minha mestra Maria Sueli, que será homenageada no maior Salão Literário do estado, o SALIPI 2025, com todo o merecimento de alguém que lutou pelos seus, em um evento muito querido- meu sobrinho de 9 anos tá há um mês contando os dias. E acredito que não restam dúvidas, para os que a conheceram e aos que foram afetados pelas políticas que ela defendia e punha em prática, que Sueli era protagonista da própria vida, mas não ao modo do feminismo liberal.
É importante de frise isso, porque o movimento feminista emancipatório é constantemente superado no mainstream por esse tipo perverso que apaga as conquistas coletivas que levam à uma transformação da aldeia, do quilombo, da roça, de modo de que os sentidos lá criados são finalmente compreendidos como importantes e valorizados como tais, em seus modos de vida distantes do que pregam esse modo de vida que costuma abraçar facilmente a ideia de mera superação individual. Maria Sueli não é igual a Margareth Thatcher e nem a suas conterrâneas que perseguem outras mulheres na diferença. Maria Sueli é diversidade, pluralidade, emancipação, questionamento do status quo. Não só porque boa parte de sua formação foi marxista, mas porque ela veio de lugares fortemente oprimidos, então, não tem como escapar de um horizonte crítico, se vamos lembrá-la.
Sempre pesquisando em grupo (de verdade), sempre valorizando a criação dos estudantes e, mesmo no direito, um curso tão à favor do status quo, incentivando não só o pensamento crítico (e exigente), mas a participação em coletivos e a aproximação com as comunidades onde quer que ela estivesse, trazendo discussões impensáveis para um lugar que ama mimetizar as relações do coronelismo (a academia), inclusive as de raça, classe, gênero e origem.
Então, tem certas coisas óbvias que precisam ser repetidas. É um saco, eu sei. Mas tudo parece tão veloz, tão descartável e quase uma bobagem por conta da facilidade da gente de enfiar o discurso e a imagem nas redes sociais sem uma pausa, uma meditação necessária. Mas a palavra é política, a palavra tem camadas de leitura e existe uma responsabilidade nossa, de quem foi tocado pela trajetória dessa mulher tão importante, de ter essa sensibilidade, de mergulhar mais fundo.
[aqui eu me autocensurei em nome dessa pausa para uma meditação necessária em relação ao que eu já havia escrito] 😏
20 andorinhas em uma tarde nublada
era só isso. achei que ficaria bonito na cabeça de um tópico. mas a título de curiosidade, eu contei essas andorinhas acima do quintal de casa, na primeira quinzena de maio. um poeminha adejando fácil, entre a altura do urubu e do pardal.
🕊 🕊 🕊
Fim!
Nay
ps. Para não dizer que não indiquei um livro diretamente mais uma vez, fica aí a dica de um nacional que apenas estou começando neste momento, mas já me divertindo horrores: Homens Elegantes, do Samir Machado, acho que é um relançamento. https://amzn.to/3SoCbTk 📗
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